Pinturas em vasos gregos retratam Penélope a trabalhar num tear como este, com pesos nas pontas. Imagino que se trate de um tear propício a tecidos maleáveis, tais como deve ter sido o pano funerário que ela tecia para o sogro. Penso num tecido fino, tipo sudário e não num tecido encorpado como os mantos de Paracas. Por falar nisso, esse fabuloso povo do Peru antigo realizou aquilo que Penélope apenas esboçou, já que desmanchava o trabalho em horas tardias. Esse povo tecia seus indescritíveis mantos para sepultar com honras os destacados dentre eles. Esses panos existem, podemos vê-los nos museus. Quem sabe se algum dia Penélope concluiu seu trabalho... Se os mitógrafos pudessem, qual Midas, materializar o objeto de suas narrativas, facilmente veríamos Indiana Jones ou Heinrich Schliemann cavocando até as pedras da Lua em busca do velocino de ouro, da nau dos argonautas ou da caixa de Pandora. Contudo, justamente por serem imaginários, esses objetos continuam a nos inspirar decorridos alguns milênios. A mortalha de Laertes é um desses objetos míticos que desafia o talento de qualquer tecelão.
Os panos funerários produzidos por numerosas culturas pré-colombianas nada sabem da mitologia grega e da maneira européia de usar o tear. São eles sublimes por mérito próprio. Sua técnica e sua arte são testemunho da riqueza e sofisticação incomuns alcançadas por povos ditos "primitivos".
Nenhum comentário:
Postar um comentário