Pensei estas coisas enquanto tecia estes dois cachecóis xadrezes (a cabeça africana foi souvenir da exposição ÁFRICA, que ocorreu no CCBB do Rio de Janeiro em 2003).
Uma vez, uma faxineira que trabalhava em casa me disse com um vigor inesquecível: "A vida é dura para quem é mole". Era tudo quanto precisava ouvir. Sou-lhe grata até hoje pela franqueza do pontapé duradouro, que lateja na memória toda vez que estou desanimada e lamurienta.
Lembrei da Bete (esse era seu nome), porque essa semana ouvi da Benigna outra coisa que não vai mais me sair da memória: ela disse que o bordado é como uma tatuagem que se incorpora à pessoa que somos para sempre.
Que delícia ouvir isso! Eu que não sou muito de flertar com as coisas, aprecio as relações duradouras, transformadoras, simbióticas. Ela disse também que não precisamos de uma montanha de paninhos bordados, precisamos daquele bordado significativo, que contém uma história, no qual depositamos algo de nós próprios, daquele que gestamos como um filho. É essa diferença que existe entre panos que são adorno e panos que são arte. A proposta deles é totalmente diferente. As revistas estão cheias de riscos e gráficos e moldes e PAP que são muito úteis, mas alguém que quisesse levar para um museu o produto desse trabalho, por mais belo e bem executado que fosse, estaria equivocado.
Sou grata à Benigna (como o sou à Bete, ao Henrique , à Sandra, à Tiyoko, ao Wagner, à Sueli, à Evelyn, à Mônica, à Bel, à Sávia, à Bia) por me mostrar a direção da porta que pretendo abrir.
3 comentários:
Adorei o que vc escreveu, essa frase da sua faxineira, se encaixou perfeitamente em mim, tem um tempo que estou desanimada, no tear tem uns fios brancos, esperando para serem urdidos e dali sair um xale de bebe...vou bordar essa frase em uma tapeçaria, para nunca mais esquecer...Obrigada Ludmila
(E por que não a Bete), beijos
não precisamos de uma montanha de paninhos bordados, precisamos daquele bordado significativo (...) É essa diferença que existe entre panos (...) adorno e (...) arte
Muito bem dito, Ludmila. Podia estar a referir-se a quase qualquer outra actividade humana. Tentarei não me esquecer.
Muito bom reler este teu post. Já tinha lido na época da postagem, gosto do que você escreve, e este na época gostei pela construção. Hoje, relendo, adquiriu um significado, o significado de gestar como um filho. É o momento, talvez pelo que comecei a fazer hoje, mas nao tem nada a ver com o dia das mães. Uma manta que vai misturar paninhos, apesar de estar seguindo um modelo de revista, mas não tem pretenção de ser uma obra de arte, só uma obra de utilidade, mesmo porque na arte de panusear paninhos eu sou caloura. Vai ser meu maior desafio, depois eu mostro. Bjs
Postar um comentário