Quando me propus a tricotar este cardigã, pensei que as tranças e o bolso embutido me dariam trabalho. Ledo engano, a modelagem é quem deu. Não ficou boa, na verdade, e tive que improvisar com fita de gorgurão um reforço nos ombros e no decote para que eles não ficassem tão desabados. Voilà! Eis a minha blusa do Léon.
Léon K. foi meu professor de Estética na faculdade. Durante suas aulas ele fazia circular entre os alunos belos volumes da Skira de sua coleção particular. As reproduções ainda eram coladas uma a uma nas páginas mais escuras e encorpadas da encadernação, uma preciosidade. Era assim que ele ilustrava seus comentários. Não havia, na época, a fartura de livros de arte que encontramos hoje em nossas livrarias (a Livraria Cultura era só uma lojinha e Jeffrey Bezos ainda não tinha sonhado com a Amazon.com). Imagino-o no aeroporto, voltando de suas viagens, sempre com o mesmo cardigã e as malas repletas de livros. Eram dele uma expressão aguda e sorridente feita de pequeninos olhos azuis e uma maneira peculiar de dizer "muita vez".
V.V. (para quem fiz a blusa, o cachecol e o gorro) também foi aluno desse professor. Quando saímos para garimpar livros nos sebos próximos à Fnac, fazemos pilhéria com a possibilidade de estarmos comprando os livros do Léon. Quero crer que esses volumes que hoje atulham nossa biblioteca não trocaram o endereço dele pelo nosso, mas certamente eles foram de alguém. Alguém os amou intensamente por um tempo e depois os abandonou. Sorte tivemos nós, que não tememos as traças e gostamos de acolher livros usados.
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