Pensei estas coisas enquanto tecia estes dois cachecóis xadrezes (a cabeça africana foi
souvenir da exposição ÁFRICA, que ocorreu no CCBB do Rio de Janeiro em 2003).
Uma vez, uma faxineira que trabalhava em casa me disse com um vigor inesquecível: "A vida é dura para quem é mole". Era tudo quanto precisava ouvir. Sou-lhe grata até hoje pela franqueza do pontapé duradouro, que lateja na memória toda vez que estou desanimada e lamurienta.
Lembrei da Bete (esse era seu nome), porque essa semana ouvi da Benigna outra coisa que não vai mais me sair da memória: ela disse que o bordado é como uma tatuagem que se incorpora à pessoa que somos para sempre.
Que delícia ouvir isso! Eu que não sou muito de flertar com as coisas, aprecio as relações duradouras, transformadoras, simbióticas. Ela disse também que não precisamos de uma montanha de paninhos bordados, precisamos daquele bordado significativo, que contém uma história, no qual depositamos algo de nós próprios, daquele que gestamos como um filho. É essa diferença que existe entre panos que são adorno e panos que são arte. A proposta deles é totalmente diferente. As revistas estão cheias de riscos e gráficos e moldes e PAP que são muito úteis, mas alguém que quisesse levar para um museu o produto desse trabalho, por mais belo e bem executado que fosse, estaria equivocado.
Sou grata à Benigna (como o sou à Bete, ao Henrique , à Sandra, à Tiyoko, ao Wagner, à Sueli, à Evelyn, à Mônica, à Bel, à Sávia, à Bia) por me mostrar a direção da porta que pretendo abrir.