Capelas bordadas, exposição montada, vernissage realizada, partilha feita. Ufa! Agora posso brincar de fazer outra coisa...
Não é que essa foto me tomou de assalto? Toda a poesia que havia pensado para nossas capelas tão graciosas virou pó diante da realidade do carro estacionado. Não que nossas capelas não merecessem um olhar mais carinhoso ou que os carros estivessem fazendo algo errado. Não. Nada disso. Eu é que não consigo processar junto a poesia que eu queria para as capelas e a necessidade de estacionar o carro para apreciar a vitrine. O Rosa dizia que "quem mói no ásp'ro não fantaseia". Mais ou menos assim. Achei tanta graça nesse duelo entre a fantasia e a realidade que não pude deixar de comentar...
“São belas.
Elas, as capelas.
E somos nós a bordá-las, devotos de toda fé.
Quando estamos em silêncio, no
lento picar das agulhas, quase podemos medir a intensidade do sinal com que buscamos compreender a nós próprios e aos outros. Divagação. Circunlóquio. Quase uma oração.
Ponto após ponto, a intenção que
nos anima ganha contornos coloridos e a linha aborda capelas outrora pedra e
pó. Transferidas para o linho – mortalha, mas também envoltório para o pão –
nossas capelas perfazem o caminho de nossas memórias íntimas.”
Não é mesmo verdade que qualquer firula poética se dissolve frente a realidade do dia a dia? Bordamos capelas, mas também estacionamos nossos carros.